COMENTÁRIO GEOPOLÍTICO 208, de 29 de outubro de 2014
Assunto: Revisão Constitucional
Terminadas as eleições. O povo escolheu, por pequena
margem, grupo que lhe pareceu melhor, ou
menos ruim. A escolha foi, em grande parte, por rejeição, entre a rejeição ao
grupo pretensamente entreguista e a rejeição ao grupo com fama de mais
corrupto. Os que rejeitam a ambos ou não votaram ou anularam seus votos
A eleição está terminada e já é passado. Cabe a todos nós
criarmos o futuro, primeiro promovendo a união, que faz a força. Ainda que nos
pareça uma situação análoga a 1930 com acusações de fraude, nossa prioridade
deve ser o marcharmos ombro a ombro, recomendou o grande Caxias. Caso grande
número se concentre em suas divergências, todos sairemos perdendo. Concentremo-nos
portanto em algo que possa ser de interesse comum.
Todos os candidatos falaram em mudanças. Falaram em mudanças
políticas, mas somente em reeleições e em financiamento de campanhas, assunto
que só interessa aos políticos profissionais. Por que não falar em mudanças
políticas que realmente interessem?
Este ensaio propõe, em três artigos, uma organização lógica,
econômica e eficiente para a nossa Nação-Estado, na esperança que seja
discutida em uma próxima revisão constitucional. A organização proposta
certamente contrariará interesses pessoais de políticos, mas se adotada será
nitidamente melhor que a organização atual. Caso mereça a adesão do povo, até
os maus políticos podem ser forçados a concordar com algumas das medidas. Se
não, poderá inspirar a alguém alguma idéia nova, que pode ser a melhor solução.
REVISÃO CONSTITUCIONAL (I)
Em primeiro lugar devemos rearticular o Legislativo; como
está não funciona e é caro demais. Nós
temos um Senado, que representa os estados e uma Câmara, representando a
população.
Vejamos primeiro o Senado
O Senado destina-se a representar os Estados como
organizações políticas, entretanto, como os senadores são escolhidos em
eleições diretas, com freqüência estão em oposição ao governo de seu estado. Em
conseqüência os senadores não representam os seus Estados, mas sim o grupo que
o elegeu, tal como qualquer deputado. No momento são três senadores por Estado
e quando são de partidos diferentes e divergem nas opiniões, fica difícil saber
exatamente o que o Estado deseja ou reivindica. O ideal seria que fosse um só
senador por Estado e este fosse escolhido pelo respectivo governador e aprovado
pela respectiva Assembléia Legislativa. Estariam ambos afinados, já que o
governador poderia substituí-lo e o voto dele representaria realmente a opinião
do Estado.
As vantagens econômicas são significativas, considerando os
dois terços a menos de senadores, assessores e demais séquitos, mas o realmente
importante refere-se a real representação do Estado, não conseguida na atual
forma. Complementando a proposta, sugerimos que os senadores tenham que ser
escolhidos pelo Governador, mas obrigatoriamente entre os deputados estaduais.
Achamos também que os ex-presidentes que terminaram o mandato devem ser
senadores vitalícios, sem receber salário pois já o posuem por serem
ex-presidentes. Estes, supõem-se, serão um fator de estabilidade e pensarão
mais no Brasil como um todo do que outro muito envolvido com as questões de seu
Estado.
Vejamos agora a
Câmara
A Câmara destina-se a representar o povo, ou seja, os vários
segmentos da sociedade. A eleição direta é indispensável, mas poderia ser
adotado idealmente o voto distrital misto. O problema da Câmara é o número
excessivo de deputados. Sociologicamente
nada funciona em uma reunião decisória com número tão grande, como proposta,
poderia ser reduzido também de dois terços, com um mínimo de três por Estado.
Um problema
a ser resolvido é o do quorum. É óbvio que os políticos teem que manter contato
com seus estados e suas bases eleitorais e para isto precisam se afastar da
Capital. Uma das soluções possíveis é o funcionamento alternado da Câmara e do
Senado, um deles em cada semana entretanto, é certo que isto só funcionará
havendo punição rigorosa para as faltas, tipo multa de meio salário por dia.
Nós todos
sabemos que a parte mais fraca da nossa democracia é o Congresso. É onde estão
as maiores mordomias e as maiores corrupções, mas não existe democracia sem
ele. Sabemos também que pode ser aperfeiçoado e temos que aperfeiçoá-lo com
urgência pois alem de ineficiente está caro demais. A primeira medida é
diminuir o número dos deputados e dos senadores; só isto já diminuirá os custos
e facilitará as decisões. Podemos pressupor também que diminuindo o número de
deputados, apenas os melhores serão eleitos. Quanto aos senadores, a indicação
fará com que eles realmente representem seus Estados, poupando as custosas
representações que atualmente fazem este papel.
A economia da redução proposta, entendida às Câmaras Legislativas
Estaduais e aos órgãos legislativos municipais é difícil de calcular, mas é
fácil de imaginar os benefícios para o País.
No próximo
artigo trataremos do Executivo, particularizando a organização dos Ministérios
e em menor escala, do Judiciário.
REVISÃO
CONSTITUCIONAL (II)
Este ensaio trata
de uma melhor organização para o Poder Executivo, isto é : Presidência ,
Ministérios e órgãos afins, e faz um ligeiro comentário sobre o poder
judiciário.
Na Presidência em
si nada há que mudar, apenas deve ter ligado diretamente a si, além dos
Ministérios, duas "Secretarias Nacionais" e um Conselho de
Estado. As Secretarias seriam a Nacional
de Inteligência (SNI) e a Nacional de Comunicação Social (SNC). O Conselho de Estado
faz o papel de uma "Secretaria de Assuntos Estratégicos", o que não
deve ser confundido com "Inteligência".
A Vice
Presidência é um problema que precisa ser corrigido. O Vice necessita ter uma
função alem de esperar pelo impedimento do Presidente. Creio que o Vice deve
ser o Ministro da Economia ou o titular de outro Ministério que seja, no
momento, mais importante. Deve ser
designado pelo Presidente e aprovado pelo Congresso. Penso também que obrigatoriamente deva ser um
congressista, para ter pelo menos um mínimo
de ligação com o legislativo
O atual número de Ministérios é excessivo e faz com que o
Presidente tenha que tomar conhecimento de detalhes de baixo nível e decidir
sobre eles. O ideal parece ser apenas
cinco, cada um com tantas diretorias quanto necessárias. Estes cinco poderiam ser:
- MINISTÉRIO DA ECONOMIA, com as Secretarias da Fazenda, de
Planejamento e da Receita.
- MINISTÉRIO DO INTERIOR, com as Secretarias de Indústria e
Comércio, de Minas e Energia, de Agricultura, de Comunicações, de Transporte e de Ciência e Tecnologia.
- MINISTÉRIO DOS RECURSOS HUMANOS, com as Secretarias do
Trabalho, de Ação Social, de Saúde, de Educação, da Ciência e Tecnologia, da
Previdência e da Justiça.
- MINISTÉRIO DE RELAÇÕES EXTERIORES, com as Secretarias das
Américas, Europa, Ásia e África.
- MINISTÉRIO DA SEGURANÇA, com as Secretarias dos Comandos
Militares Conjuntos do Sul, Norte, Leste, Centro Oeste, do Comando Naval do
Atlântico, do Comando Aéreo Estratégico e da Secretaria da Polícia Federal.
As Secretarias
citadas aqui como exemplo são apenas para opinar sobre a área de abrangência.
Cada Ministério deverá constituir-se segundo as necessidades após a definição
das respectivas áreas.
Quanto ao Poder
Judiciário, a reformulação necessita ser completa. Atualmente todos os que
podem evitam a Justiça em razão, principalmente, da lentidão de seus
procedimentos. A solução que vislumbramos é um juizado de pequenas causas em
cada delegacia, de modo que os casos compatíveis possam ser resolvidos na hora.
Assim a maioria dos problemas deixará de existir.
Nas demais
instâncias persiste a necessidade de diminuir a atual lentidão. A solução pode
ser "um prazo máximo", mas é indispensável a existência de um órgão
que possa julgar não só os erros dos juízes como também a ultrapassagem dos prazos.
REVISÃO CONSTITUCIONAL (III)
Esta parte final visa propor uma melhor prática da Federação,
como forma de evitar a eclosão de
movimentos separatistas e de permitir que cada brasileiro escolha, dentre os
Estados, qual o que prefere viver não só pelo clima e oportunidades mas também
pela legislação que lhe agrade. Assim, é
necessário que a autonomia das unidades da Federação seja ampliada em vários
sentidos.
As diversidades
do meio físico, do clima e do estágio de desenvolvimento fazem que as leis,
adequadas para um Estado, possam ser totalmente inconvenientes em outro. No
momento temos uma legislação trabalhista que pode ser ótima para S. Paulo e
inibidora do desenvolvimento no Piauí, outra, relativa ao meio ambiente, possa
ser adequada para o Rio Grande do Sul, prejudicial na Bahia e odiada no
Amazonas, onde até as autoridades a ela se opõem frontalmente, alem de outros
tantos aspectos fiscais, judiciários e que regulam a vida comum e que deveriam
ser adaptados as circunstâncias locais.
O importante é
a CONSTITUIÇÃO determinar apenas organização básica da Federação, as (poucas)
imposições federais, o âmbito de atuação e os tributos federais. O resto todo
seja de responsabilidade de cada Estado
Desta forma,
caberá exclusivamente à União:
I - Estabelecer
relações com estados estrangeiros
II - Participar de
organizações internacionais
III - Declarar guerra e fazer a paz
IV - Emitir moeda e
decidir sobre os impostos Federais
V - Comandar as Forças Armadas
VI - Decidir sobre as
vias de transporte interestaduais e internacionais em nosso território
As demais
atribuições deixam, em princípio, de ser competência exclusiva da União
Federal, que assumirá mais um papel de coordenação geral. Desta maneira, os
Estados se organizarão conforme as preferências de seus habitantes; os que
quiserem priorizar o desenvolvimento assim o farão, os que preferirem o meio
ambiente que o façam, os que desejarem armar os homens de bem o problema é
deles, os que priorizarem a proteção aos bandidos adolescentes que arquem com
as conseqüências. Ë bom lembrar que isto
começa a acontecer independente das leis, e quando as tentativas de repressão
se chocam com uma forte aspiração local, as conseqüências são imprevisíveis.
Poderiam existir
argumentos contra; por ex. haveriam estados dominados por oligarquias, mas se
são é porque querem ou ao menos consentem. Que direito teriam os outros Estados
de impor o fim de uma oligarquia nas Alagoas caso eles lá assim o desejem? Ou de entregar a metade de Roraima para um
pequeno punhado de índios contra a vontade de toda a população local?
Há entretanto
duas condições básicas para o bom funcionamento da União Federal: Não haver
barreiras fiscais entre Estados e que cada Estado possa arcar com suas
despesas.
Desta maneira
certamente teremos um Brasil mais próspero e mais feliz
As medidas propostas são, naturalmente, incompletas. Só devem
servir para levantar idéias, mas caracterizam muitas das aspirações de nossa
gente, a qual deseja mais autonomia e menos burocracia, mais respeito às
tradições locais e menos imposições de quem não tem nada com isso.
Que Deus ilumine as decisões do novo (velho) Governo
Gelio Fregapani
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